Na pandemia, ioga, pintura e terapia reduzem impacto do trabalho na saúde

Imagem: Delmaine Donson/iStock

Gabriela Monteiro

Colaboração para o VivaBem

16/06/2021 04h00

O que parecia passageiro, provou-se o contrário: a pandemia já dura mais de um ano e ainda não tem data para acabar. Com ela, suas mazelas: o medo iminente, a saudade, as incertezas e, porque não, o teletrabalho, também conhecido como home office.

É claro que há benefícios na modalidade na qual o colaborador pode trabalhar de sua própria casa. Não há mais a distância e os trajetos eternos, nem as comidas de shopping e houve até uma flexibilidade no vestuário. Mas com ele vieram os problemas de ergonomia, conectividade, aumento no sedentarismo e uma dificuldade muito, mas muito intensa em separar o ambiente de trabalho do ambiente de convivência.

Uma pesquisa realizada na França e publicada em junho mostrou que 48% dos trabalhadores em home office se sentem “abandonados” pela empresa e 31% sentem que seu ambiente caseiro não é adaptado para a execução de suas tarefas. “Chegar em um lugar diferente, interagir com outras pessoas, a variedade das atividades, experiências e percepções do dia: isso tudo dentro do home office, acaba se perdendo”, explica Nara Helena Lopes, pós-doutoranda no Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo).

“Para algumas pessoas, pode ser um ganho, significa a possibilidade de estar mais próximo de casa e da família. Mas esse estar em casa precisa também ter algumas delimitações. Porque o que a gente percebe na pandemia é que o home office acabou engolindo o tempo de algumas pessoas”, diz ela.

É o caso da paulistana Rita Ruano, 53, que, com a chegada da pandemia, sentiu que estava dedicando seus dias integralmente ao trabalho. Executiva de vendas em uma multinacional com foco em bens de consumo, ela conta que se viu confinada em uma sala de 4 m², sem ventilação e iluminação adequadas, sem respeitar horários de pausa e sem sequer perceber que já era noite.

“O volume de trabalho dobrou em função da pressão por resultados em uma economia em queda, que, aliada à falta de uma política/código de ética para o trabalho home office, deixou implícita a disponibilidade do executivo 20 horas por dia”, explica. Para tentar amenizar um pouco a rotina tão exigente, Rita sucumbiu aos prazeres do trabalho artesanal. “Ao comprar retalhos de tecido para estimular e motivar minha mãe a embrulhar seus pães, acabei me apaixonando por aquele mundo lúdico de cores, estampas, formatos, tintas e flores. Comecei então a explorar mais o universo do artesanato e da decoração”, conta.

Primeiro, ela começou a produzir jogos americanos, que logo viraram toalhas de mesa até se tornarem uma verdadeira renovação de antigas louças. “Uma simples refeição em família ganhava cor e animação. Aquilo me provocava um bem-estar fantástico e me motivava mais e mais a me desafiar em novas empreitadas”.

Ajustes pandêmicos

Meses antes do vírus ter tomado a forma grandiosa e pandêmica que tomou, a dentista Daniela Stefano, 26, moradora de São Paulo, já sentia os efeitos que a falta de lazer podem gerar. “No final de 2019, passei com um cardiologista para investigar as palpitações que eu tinha no coração. Fiz diversos exames e o diagnóstico dele foi categórico: eu estava com ansiedade em estágio elevado e precisava muito focar mais em mim”, conta.

Ela já não estava sozinha. Uma pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) revelou que brasileiros são os mais ansiosos do mundo em números absolutos: 18,6 milhões (9,3% da população) convivem com esse transtorno. Sob indicação médica, Daniela foi buscar ferramentas que a voltassem “para o eixo”, como a mesma define. E quer atividade mais efetiva nessa tarefa do que a ioga? A prática indiana milenar tem como um de seus princípios trazer esse “retorno para si mesmo”.

A dentista obteve êxito na empreitada: “A ioga passou a ser um momento em que eu consigo pensar somente no presente e tiro outras coisas da cabeça. Você foca no seu corpo, na sua respiração”. Desde que começou a pandemia, ela passou a praticar de maneira remota e, inspirada a mudar de vida, começou a ter horários mais flexíveis, praticar meditação e até a cortar a carne do cardápio.

Para o mentor em desenvolvimento pessoal Flávio Moreira, atividades associadas ao autoconhecimento vêm sendo um suporte há muitos e muitos anos para quem busca lidar melhor com as demandas sociais. “Muitas culturas antigas e metodologias enraizadas nessas tradições trazem recursos fantásticos de desenvolvimento pessoal que podem dar ao praticante diferentes habilidades para uma vida com mais qualidade, propósito e melhoria contínua”, diz.

Flávio estuda e pratica essas metodologias há mais de 30 anos, imerso na teoria do método DeRose. Com base em sua própria experiência, o resultado dessa busca por um autoconhecimento impacta de maneira ágil e direta no foco, na produtividade, na inteligência emocional e na vitalidade. “Quando as pessoas buscam pela essência, que é desenvolver-se, o resultado vem rápido. Ao buscar evolução de uma forma que seja técnica e pragmática, é parte do processo que o estilo de vida se reorganize”, diz.

A terapia como escape

A terapia também pode ser um processo ótimo para assuntos de trabalho, mas existem linhas especializadas na formação de carreira e outras com foco no indivíduo de maneira integral. “A psicoterapia, de um modo geral, vai abranger desde a vida pessoal, seus relacionamentos, angústias e podendo também —mas não necessariamente — trazer questões de carreira”, explica Nara Helena.

Isso porque há duas naturezas psicológicas acarretadas por um trabalho: você pode estar envolvido em suas tarefas, mas infeliz com o ambiente. Ou você pode estar muito feliz com o ambiente, mas nem tanto com as suas tarefas. O segundo caso, geralmente, costuma manter mais as pessoas empregadas do que o primeiro, por incrível que pareça.

“É comum vermos pessoas que dizem não gostar do trabalho, mas não vão sair porque gostam do clima da empresa ou das pessoas dali. Quando o oposto acontece, a pessoa gosta das tarefas, mas não gosta do clima, acaba sendo um problema maior”, continua Nara. “A atividade em si às vezes acaba sendo um ganho secundário. É mais comum pessoas que procuram a terapia para se queixar dos relacionamentos que ali se estabelecem, e não tanto de suas práticas”, diz.

Referencia: uol.com.br

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